quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Placa do IDEB

Confesso que nunca fui muito bom em fazer previsões. Vez ou outra tento um palpite em uma loteria qualquer, ou então arrisco um placar para o próximo jogo do meu  time do coração, mas sem muito sucesso nas duas empreitadas. Entretanto, estou propenso a aventurar um prognóstico nesta questão atualmente debatida pela mídia nacional, onde um conhecido articulista e economista, propõe que todos os estabelecimentos de educação básica tenham nos seus portões de entrada, em um cartaz de um metro quadrado, a informação do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) obtido pela escola. Minha previsão desta vez é de que a maioria dos educandários localizados nas regiões centrais e que tenham alunos oriundos de classes sociais mais favorecidas, terão os melhores índices.
Brincadeiras à parte, não precisa ser um mago, um vidente ou um feiticeiro para acertar esta previsão. Se você não for, um economista formado em Yale e sim um professor de escola pública com quarenta horas semanais, você não terá dificuldade alguma em prever o resultado de tal medida.  A idéia da tal placa não faz sentido por muitas razões. Primeiramente, os alunos são matriculados nas escolas obedecendo a um zoneamento, ou seja, o aluno é normalmente encaminhado e aceito na escola do seu bairro. Outra questão é a de que mesmo que você ou eu não sejamos bons neste negócio de dar palpites, ainda assim não é difícil prever que o fato de um pai trocar o seu filho de uma escola de IDEB baixo por uma com melhor índice, não ajudará a  melhorar a performance da escola menos favorecida, já que este é um problema que envolve outras variáveis importantes.Também não será difícil prever que as escolas de periferias continuarão tendo índices baixos, uma vez que lidam com alunos com alta vulnerabilidade social e econômica.
Não sou contra a cobrança de metas e resultados em relação ao professor ou a qualquer outro profissional. Entretanto, não se pode tratar da educação de uma forma simplista e com conceitos tão obscuros, a exemplo da idéia em debate. Pensar em soluções para a educação sem levar em consideração elementos como: condições materiais das escolas, vulnerabilidade econômica dos estudantes, defasagem de serviços sociais adequados e de qualidade para as famílias dos alunos, falta de treinamento apropriado aos professores, salários e cargas horárias absolutamente inadequadas, é no mínimo uma peça de ilusionismo de muito mau gosto.
Para finalizar, tenho uma sugestão que pode contribuir com o nosso ilustre economista: que tal, além da placa de um metro quadrado do IDEB, o governo também autorizar que as escolas façam uma placa com todas as carências da escola, dos alunos e dos professores?  Como disse anteriormente, não sou nenhum Nostradamus ou um Rasputin no que diz respeito a previsões, mas tenho certeza que precisaríamos de muito mais do que um metro quadrado de placa para relacionar todos os verdadeiros problemas das nossas instituições de ensino.

Prof. José Eduardo Albuquerque

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